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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Antonio Anastasia e Hélio Costa falam da Educação em Minas Gerais

HÉLIO COSTA (PMDB) x ANTONIO ANASTASIA (PSDB)

Os principais candidatos ao governo de Minas falam sobre as questões ligadas à Educação
Por Meghie Rodrigues

 Hélio Costa e Antonio Anastasia, concorrentes ao governo de Minas Gerais
(Fotos: Divulgação). Siga os candidatos no twitter: @heliocosta15 e @Prof_Anastasia.


A disputa pelo governo mineiro está polarizada entre o atual governador, Antonio Anastasia (PSDB), de 49 anos, e o ex-ministro das Comunicações do presidente Lula, Hélio Costa (PMDB), de 71 anos de idade. Ambos se vangloriam de feitos em prol da Educação: Hélio Costa ao dizer que levou o acesso a internet rápida para escolas por todo o Brasil em sua atuação no ministério e Anastasia ao se referir ao fato de Minas Gerais liderar o ranking estadual nas séries iniciais do ensino fundamental, segundo o IDEB. Anastasia também ressalta as reformas realizadas na parte física, afirmando ter reformado as 3 600 escolas de Minas
Gerais “melhorando as instalações, criando laboratórios de informática e ciências, quadras, um investimento de mais de R$1 bilhão”.
O peemedebista alfineta o concorrente comentando que apesar da comemoração pelos resultados no IDEB, “se esqueceram de que o IDEB é medido de 0 a 10, e nós ficamos abaixo de 6. Passou-se a ideia de que Minas estava muito bem, quando na realidade entendemos que Minas está muito mal. Bem está quem tem nota 9,5 ou 10”, diz Costa.
Confira estas e outras opiniões de ambos nas respostas às perguntas formuladas pelos conselheiros do Educar para Crescer. As entrevistas foram realizadas individualmente e os candidatos não tiveram acesso prévio às questões. Hélio Costa foi acompanhado por Carlos Pereira (conhecido como Carlão Pereira), que participa da elaboração do plano de governo do PMDB e, em várias questões, complementou a fala do candidato, chegando a, em algumas vezes, responder pelo entrevistado.

*Pesquisa IBOPE realizada entre os dias 18 e 20 de agosto de 2010. Hélio Costa (PMDB): 38%; Antonio Anastasia (PSDB): 27%. Demais candidatos: 1% ou menos. Brancos e Nulos: 7%; Indecisos: 25%.

No Brasil ainda temos aproximadamente 15 milhões de mulheres e homens acima dos quinze anos de idade que não conseguem, por serem analfabetos, ler o lema da própria bandeira nacional: Ordem e Progresso. Na sua eventual atuação como governante, qual é a ação que fará para não consolidar essa injusta e vergonhosa ironia cívica?
Pergunta elaborada por: Mario Sergio Cortella, filósofo, ex-secretário municipal de Educação de São Paulo, doutor em Educação, professor da PUC-SP

Antonio Anastasia – Primeiro temos de evitar que isso continue ocorrendo. Minas Gerais deu um exemplo para o Brasil ao antecipar o ingresso das crianças de seis anos de idade nas escolas, aumentando em um ano o Ensino Fundamental, (Minas Gerais foi o primeiro estado a instituir o Ensino Fundamental de nove anos, em 2003), o que melhorou o nível das nossas crianças, lendo e escrevendo aos oito anos. Isto é reconhecido pelo IDEB do MEC: o primeiro lugar do Ensino Fundamental é nosso, apesar da heterogeneidade de Minas Gerais, que é um Estado muito diverso (Minas Gerais foi o estado que teve maior avanço no IDEB: o índice mineiro referente aos anos iniciais do ensino fundamental saltou de 4,7 para 5,6 pontos, de 2007 para 2009. O acréscimo de 0,9 na pontuação foi mais do que o dobro da média nacional. Minas, ao lado do Distrito Federal, lidera o ranking estadual nas séries iniciais do ensino fundamental). Com isso, no que diz respeito ao futuro, esta questão está bem feita. O ensino já está universalizado, estamos investindo em qualidade, as crianças estão em um bom ambiente. Mas ainda temos pessoas que lamentavelmente não pegaram isso lá atrás e formam um contingente muito grande de adultos que, de fato, lamentavelmente, são analfabetos e muitas vezes já não têm muito estímulo para voltar a estudar. Por isso temos programas especialmente na região do grande Norte (Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas), com este objetivo (de alfabetizar pessoas fora da idade regular). A nossa secretaria extraordinária dessa região tem belos programas, sempre em parceria com as organizações não-governamentais com o objetivo de levar essas pessoas à sala de aula. Eu mesmo, em vários eventos no Norte, tenho tido a oportunidade de entregar diplomas de alfabetização a adultos, com 40, 60, e até 70, 80 anos de idade, que já maduros resolveram estudar. Fazemos também em parceria com instituições religiosas, que têm uma legitimidade muito grande, sem nenhum preconceito. Claro que significa despesa, mas é um recurso bem empregado porque a pessoa que passa a ler torna-se plenamente cidadã.

Hélio Costa – Apesar dos esforços feitos no passado com programas nacionais, estaduais e até municipais, ainda temos que lidar permanentemente com essa questão do analfabetismo. Isso deve ser uma prioridade porque acho que não saber ler é o que de pior pode acontecer à vida social de uma pessoa. Precisamos despertar a própria sociedade para este problema, que não é apenas uma obrigação governamental. Eu me lembro que, quando menino, as pessoas sentiam quase que um dever de, sabendo que existia uma pessoa que não sabia ler, pegar aquela pessoa e levar para dentro da sua casa para ensiná-la. Eu, menino, ensinei um velho a ler. Tenho a honra de dizer isso. E hoje não vejo mais isso. Parece que tudo é responsabilidade do governo – federal, estadual, municipal. Deve haver uma conscientização da sociedade de que nós não devemos permitir o analfabetismo. Acho que é um grande passo a gente criar, ao menos dentro do governo do estado, campanhas capazes de movimentar a sociedade no sentido de trabalhar contra o analfabetismo.

O bom administrador sabe que a criação de indicadores, definição de metas e acompanhamento das mesmas são condições básicas para uma administração aceitável. Há alguns anos foi criado um indicador nacional para a educação que é o IDEB, bem como metas para seu acompanhamento. Mesmo assim, quase nenhum governante se compromete objetivamente com tais metas ou, o que seria melhor, estabelece suas próprias metas de forma mais agressiva. Dito isto, gostaria de saber: o senhor sabe qual é o IDEB do seu estado?
Pergunta elaborada por: David Saad, executivo de Relações Institucionais Sociedade Beneficente Israelita Brasileira

Antonio Anastasia – Minas Gerais, hoje, felizmente, tem uma situação acima da média. Nos três agrupamentos (ensino fundamental 1 e 2 e ensino médio) somos o primeiro lugar no ensino de primeira a quarta séries, terceiro lugar no ensino médio e terceiro no ensino fundamental II, da quinta a nona série. A nota gira em torno de quatro pontos, não me lembro exatamente agora as notas exatas, mas estamos bem acima da média, e melhor que Estados homogêneos como Distrito Federal, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro, o que mostra o grande esforço realizado por Minas. (O IDEB de Minas Gerais, no caso das escolas públicas é: do 1º a 5º ano, 5,8; do 6º a 9º ano, 4,1; do Ensino Médio 3,6). Isso nos satisfaz? Não. Eu sou o primeiro a reconhecer que essa nota boa do IDEB dada a Minas não pode justificar um repouso na nossa educação. Ao contrário, se nós queremos que Minas Gerais avance mais que os outros Estados e apresente um modelo de educação, que nós consigamos ser um Estado melhor para se viver, com melhoria do nosso IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que ainda é pequeno – nós temos o 10º IDH em razão da renda per capita, somos um Estado muito populoso e pobre – então o esforço número um é a educação. E por isso o esforço na educação que nós estamos fazendo no ensino fundamental, para melhorarmos a base, porque sabemos que a educação não se resolve em um ano, em dois, ou em dez. Vai demorar vinte anos e nós temos de investir muito agora. Nosso objetivo é sempre estar nos primeiros lugares, se possível o primeiro no Brasil. Mesmo sabendo que esse indicador brasileiro é pequeno perto do mundo mais desenvolvido. Não dá para se ter uma educação suíça ou sueca num primeiro momento. Mas nós vamos gradativamente subindo.

Hélio Costa – Todo mundo comemorou que o estado de Minas foi bem avaliado no IDEB, mas se esqueceram de que o IDEB é medido de 1 a 10 (N.R.: na verdade, é de 0 a 10), e nós ficamos abaixo de 6. Isto me preocupa demais porque passou-se a ideia de que Minas estava muito bem, quando na realidade entendemos que Minas está muito mal. Está bem é quem tem 9,5 ou 10 no IDEB. Quem está abaixo de 6 não pode comemorar nada. Pode comemorar o esforço que fazem os profissionais do setor, dos servidores públicos da Educação porque lamentavelmente não têm um bom salário, e ainda assim se esforçam para poder cumprir com a sua meta. Em Minas Gerais, temos de observar o quadro de classificação das escolas. Por exemplo: a única presença de escola pública entre as melhores escolas é a Escola de Aplicação da Universidade de Viçosa, que está em sétimo lugar (no Enem). Todas as outras, até o centésimo lugar são escolas particulares. E a escola particular tem uma vantagem enorme: troca o professor a hora que quiser; paga bem se ela quiser e se o professor for bom; se o aluno faz bagunça, tira o aluno da sala e manda embora da escola; enquanto a escola pública, lamentavelmente, não pode fazer nada disso. Temos de ter um cuidado muito especial com a educação pública em Minas Gerais. Ela tem de ser prioridade. Porque as nossas crianças quando estão na classe A e B vão para creche particular e escola particular. Mas e as crianças filhas dos trabalhadores? Não têm nem creche na educação infantil e muito menos o espaço para ter uma boa escola quando chegam ao ensino fundamental.

O sr. se compromete com essas metas ou com metas mais agressivas para o IDEB? Quais são as ações objetivas que o senhor, hoje, pode dar certeza absoluta que fará, caso eleito, para atingir essas metas?

Antonio Anastasia – Temos algumas frentes de ação na educação. Começando pela questão física, da recuperação das escolas e do ambiente escolar, que não pode ser um ambiente degradado. Reformamos as 3 600 escolas de Minas Gerais, melhorando as instalações físicas, criando laboratórios de informática e ciências e quadras. Não está perfeito, mas houve um avanço expressivo e investimentos que nunca aconteceram. Gastamos mais de R$1 bilhão só em reforma de escolas pelo estado afora e na construção de novas escolas, coisa que não acontecia há muito tempo. Agora nosso grande desafio está na qualidade do ensino e nisso seguimos duas vertentes. A primeira delas é a questão da metodologia, de qualificação dos professores, de acompanhamento escolar. Temos em Minas um sistema de avaliação muito avançado realizado em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora, que avança bem. Hoje, a secretária de Educação, do seu gabinete, sabe que o aluno José da Silva, que está numa escola em Almenara, teve nota baixa em Matemática naquele mês. Este é um controle muito positivo que nos dá informações importantes. Do outro lado, temos a questão do professor. Temos de melhorar e tornar mais atraente a carreira do professor. E o desafio é mais difícil. A remuneração é baixa em Minas e nos outros estados, é um volume muito grande de pessoas, o que gera esta dificuldade em dar aumentos expressivos porque o orçamento não comporta. Nós mudamos a lei agora e criamos incentivos específicos, juntamos tudo numa parcela única, que resultará em um aumento de 40% a partir do ano que vem. Mesmo assim, temos de investir muito em motivação dos professores e qualificação permanente. No programa de governo estamos propondo algumas ideias novas. Uma, que não foi lançada ainda, é o chamado “Professor da Família”. Estamos identificando nas áreas onde há uma necessidade de melhora na qualidade de ensino – já que nós temos este acompanhamento – e a ideia é colocar professores que vão às casas de alunos que têm a nota pior, não só para dar aula de reforço, mas também para ver a situação sócio-econômica da família, ver se o poder público pode ajudá-los a se engajarem mais na educação da criança.

Hélio Costa – A meta é melhorar este índice. Porque quando se parte do princípio de que a nota máxima é dez e estamos abaixo de seis, o que não nos coloca numa posição muito diferente de outros estados, e até de países mais avançados, precisamos ter como meta melhorar o índice. Na educação fundamental, por exemplo, Minas Gerais está bem, mas no ensino médio já caímos para o terceiro lugar, e no ensino superior também estamos no terceiro lugar. Acho que seria pretensioso colocar um percentual do quanto nós podemos estabelecer como meta, mas a nossa meta é avançar, ter números melhores a partir do ano que vem.
Com relação a ações, temos de promover a valorização do profissional da educação. Estamos, nos últimos oito anos, com uma dívida com os nossos professores e professoras. Muito embora o estado tenha crescido, como o Brasil cresceu e a receita do estado teve um crescimento de quase 200%, acompanhando o crescimento do Brasil, lamentavelmente, do ponto de vista da remuneração dos nossos professores, nós estamos bem aquém do que entendemos que seria razoável. No mínimo, precisamos fazer o pagamento do piso. Vamos nos esforçar para, nos quatro anos de governo, ajustar esta questão salarial dos professores. Não é fácil, eu sei, mas não é justo, principalmente depois da negociação realizada para se terminar com o movimento grevista, que durava quarenta e cinco dias (houve um acordo em maio de 2010, entre professores e governo, obtido após greve), mas entendo que ela (a negociação) não atende plenamente as expectativas dos professores. Os novos professores, em começo de carreira, podem até achar que têm um salário adequado, porque vão passar de R$ 900 para cerca de R$ 1 300, mas vão ficar praticamente condenados a este salário. Eles não terão progressão na carreira. E os mais antigos, com 20, 25 anos de casa, tiveram todos os seus ganhos incorporados – biênios, qüinqüênios – todas as vantagens incorporadas para poder atender ao piso nacional. Isso precisa ser revisto.
Existem pontos específicos que também estamos tratando dentro do nosso programa de governo, que é uma escola pública melhor. Já tivemos uma escola pública exemplar, excepcional, em Minas Gerais, inclusive. Hoje temos dados que são muito tristes em relação à educação: 39,5% dos nossos alunos do ensino fundamental não concluem e este percentual salta para 55,1% no ensino médio. Acho que esses números são muito ruins e precisam de uma atenção especial toda vez que a gente fala em educação. Queremos também introduzir novamente no ensino médio a disciplina que vai permitir o retorno à antiga disciplina de Preparação Profissional, ou seja, o ensino profissionalizante. Temos até uma proposta de criar o ensino profissionalizante em 81 escolas, e criar mesmo cerca de 40 escolas junto ao governo federal, que tem tido uma performance excepcional no que diz respeito ao ensino técnico.

Considerando que o professor é peça chave para a melhoria da qualidade do ensino. Como o candidato pretende articular a formação dos professores com a prática da sala de aula para que haja um efetivo impacto na qualidade?
Pergunta elaborada por: Maria Alice Setubal, socióloga, diretora-presidente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), integrante do Conselho de Administração da Fundação Abrinq e do Conselho do Programa Comunidade Solidária

Antonio Anastasia – Temos um projeto muito bom – que ainda é do tempo do governador Itamar Franco – chamado Veredas, com o objetivo exatamente de qualificar os professores. Esse tem sido um esforço muito grande. Acreditamos que é obrigação do Estado oferecer ao professor uma qualificação adequada. E fazemos isso em parceria com as universidades com cursos permanentes. Criamos um adicional-escolaridade no plano de carreira do magistério exatamente para estimular de maneira remuneratória o professor a subir de nível, desde que ele estude. Ele pode comprovar com seus diplomas e ter um ganho na carreira. No entanto, o fundamental é criar um ambiente, uma situação na qual ele se sinta pessoalmente estimulado a avançar e se qualificar melhor. E isso acontece não só com a remuneração, mas também com um reconhecimento social. Lembrando que existem diferenciações, porque Minas é um estado muito heterogêneo: a realidade da sala de aula no Triângulo é uma, na Zona da Mata é outra, e do Norte é outra. O professor faz essa qualificação de acordo com a sua realidade e com as circunstâncias que ele vai encontrar em sala de aula.

Hélio Costa – Há uma deficiência que precisa ser medida, não sei o quanto ela prejudica na realidade, mas é muito, que é a capacitação profissional. Estamos um pouco lentos quanto à capacitação profissional. É uma reclamação constante que nós recebemos dos professores e professoras, nas nossas viagens, nos nossos encontros. Também chegou a hora de usar todos os recursos possíveis da moderna tecnologia que está à disposição e que certamente começa agora a fazer a diferença nas escolas públicas, principalmente em razão de alguns programas que estão sendo executados pelo governo federal. Eu mesmo tenho a honra de dizer que fui peça importante, como ministro das Comunicações, de conseguir o programa Banda Larga nas escolas públicas e fazer com que ele fosse um sucesso nacional. Nós hoje temos 57 mil escolas públicas no país e mais de 5 mil em Minas já com Internet de alta velocidade. Este instrumento é poderosíssimo no apoio ao professor e no desenvolvimento das habilidades do aluno. E, sobretudo, os programas que são elaborados, preparados inclusive por entidades como a que você representa (Educar para Crescer), aqui nessa entrevista. A Editora Abril tem softwares maravilhosos que ajudam às professoras e professores, fazem planejamento em todos os níveis do sistema. Eu acompanhei muito a preocupação que tinha essa fundação nessa primeira tentativa de se modernizar as escolas por meio de sistemas eletrônicos. Podemos exemplificar com duas experiências interessantes: fizemos a implantação do primeiro sistema de Internet banda larga sem fio nas escolas públicas em Tiradentes. Foi a primeira cidade e fizemos um acompanhamento detalhado para o Ministério das Comunicações e Ministério da Educação. Em seis meses, registramos o melhor aproveitamento da ordem de 180%, na medida em que os alunos começaram a entender a máquina, começaram a utilizar o computador no dia-a-dia, nas suas aulas. Foi extraordinário. E isso nos levou a uma segunda experiência também em Tiradentes, num convênio que foi feito com uma empresa americana e conseguimos doar para cada aluno um computador. Dobramos a quase 250% o rendimento do aluno quando ele tem o computador na escola e ainda pode levar o computador para casa.

Há quem defenda a implantação da política de bônus como forma de reconhecer o mérito do professor. O senhor acredita que esta seja a melhor política para reconhecimento de mérito docente? Se não, qual seria o caminho?
Pergunta elaborada por: Mozart Neves Ramos, presidente-executivo do Todos Pela Educação
Antonio Anastasia – Minas Gerais foi o primeiro estado do Brasil a fazer isso. Os outros copiaram e nós gostamos disso. Criamos um adicional de produtividade. Como nós estabelecemos um sistema de metas e resultados, passamos a remunerar com um 14º salário, proporcional à nota que cada secretaria tira em razão das suas metas. Se há um elenco de metas e eles atingem 80% daquela meta, uma vez por ano eles recebem 80% do seu salário a mais. É um sistema que tem funcionado espetacularmente bem, tem sido muito positivo. Sabemos que não podemos substituir a remuneração fixa pela remuneração variável, mas a remuneração variável é sempre um atrativo. É importante dizer que acoplada à questão da produtividade há um desdobramento que é a certificação. Estamos cada vez mais profissionalizando o serviço público. Isso significa que para determinados cargos só vai a pessoa certificada. E a educação já tem isso para os diretores e nós queremos estender até para os diretores regionais de educação.

Hélio Costa – Todo sistema que premia a excelência, o trabalho, a dedicação, o aprimoramento, o aperfeiçoamento é muito importante e que, em qualquer atividade, tem um resultado quase sempre positivo. O professor e a professora merecem mais. Não vejo necessariamente o bônus como o único motivador do professor, porque não conheço nenhum professor, mesmo ganhando quinhentos e poucos reais que não esteja motivado. É uma coisa extraordinária a dedicação do professor, que é uma profissão que a pessoa escolhe sabendo que é um sacrifício. Eu nunca encontrei uma professora que venha para falar mal. Ela está sempre empenhada, dedicada, cuida dos seus alunos. Mas eles querem ser adequadamente pagos. A política de bônus hoje existente deve continuar, porque ela sempre incentiva e é mais um instrumento com que você pode contemplar o professor.
Outro dia vi uma proposta – que eu não quero nem identificar para não parecer que estou polemizando – pela qual os professores adotariam, eles mesmos, determinados alunos que precisavam de um melhor acompanhamento. E vieram me perguntar sobre isso. E disse que tem inclusive uma lei na Assembleia Legislativa de Minas Gerais que prevê esse acompanhamento para as crianças de classe média baixa, que não têm como pagar uma aula de reforço. Elas têm um acompanhamento psicológico, pedagógico, até sociais e certamente, o acompanhamento de reforço que é dado pela própria escola. Mas não se pode impor isso ao professor, criar mais esta carga de trabalho para o professor. Eu acho que isso não é justo e isso é uma proposta do governo do estado de Minas Gerais.

As avaliações nacionais mostram que um dos maiores desafios da educação brasileira sob a responsabilidade dos estados é o ensino médio, que apresenta indicadores ruins tanto de desempenho dos alunos como de cobertura. Cerca de 20% dos jovens brasileiros entre 15 e 17 anos estão fora da escola. Entre os que conseguem concluir o ensino médio, apenas 9% desenvolvem as competências e habilidades esperadas ao final da educação básica. O que o senhor ou senhora fará no seu estado para melhorar o ensino médio?
Pergunta elaborada por: Maria Helena Guimarães de Castro, ex-presidente do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e ex-secretária da Educação de São Paulo

Antonio Anastasia – Temos dois desafios nesta questão: manter o ensino fundamental que achamos que está melhorando e dar prioridade ao ensino médio onde nós temos – os dados da Maria Helena são verdadeiros – dificuldades, em Minas e no Brasil. Criamos aqui um programa que é um sucesso, chamado Poupança Jovem. Os últimos dados que temos dizem que a redução da evasão escolar onde há o Poupança Jovem é de 50%, algo que não existe em outro local no Brasil. Lamentavelmente, temos 50mil jovens no Poupança Jovem enquanto devíamos ter um milhão. Não conseguimos recursos financeiros para sustentar o Poupança Jovem de maneira universal. É um projeto muito positivo, no qual o aluno do ensino médio tem estímulo a permanecer, fazer os cursos de Cidadania, de Informática, é acompanhado.
Nós estamos acoplando à Poupança Jovem – e aumentando – o PEP, que é o Programa de Educação Profissional do Estado. Compramos vagas no sistema privado e essas vagas são destinadas a alunos do ensino médio. São 140 mil nesses últimos três anos, e vou expandir isso para 400 mil. É um programa positivo porque o aluno sai dali com uma vocação, com um curso de qualificação – do SESI, do SENAI, das formações tecnológicas. Com este misto, aumentando o Poupança Jovem e aumentando o PEP, estamos dando ao aluno do ensino médio atrativos e incentivos, não só para permanecer em sala de aula e concluir o ensino médio, mas para ter uma profissão quando sair. Estamos propondo também, no plano de governo, isso eu não posso detalhar ainda, mas é um programa interessante – que é uma Rede Mineira dos Jovens, para que, concluindo o ensino médio, haja um comitê em cada escola e o jovem ficará três meses recebendo uma bolsa para ter já uma introdução ao mundo do trabalho. Isso está sendo detalhado.

Hélio Costa – Investir em valorização do professor e em equipamentos. É preciso a modernização eletrônica nas escolas, ter equipamento, laboratórios, instrumentos de ensino. Qual a escola no interior de Minas Gerais que tem um laboratório de Química e de Física? Quando eu estudei no colégio estadual, em Barbacena, há mais de quarenta anos atrás, tinha laboratório de Física, de Química, um pequeno museu de história natural. Hoje não tem mais isso. E quem está estudando biologia, e tem que estudar as células, não tem como ver, nunca olhou num microscópio. Precisamos analisar um outro fator importante: a maioria dos jovens não conclui o ensino médio porque tem que trabalhar, ajudar em casa, sobreviver e adia o estudo. Ele pensa “depois eu volto à escola, quem sabe num curso noturno”, e acaba não fazendo. Isso é uma pena. Li uma vez um artigo interessantíssimo, uma observação feita por Albert Einstein de que as verdadeiras inteligências raras surgem no ensino médio, não é no curso superior. Se nem sequer consegue concluir o ensino médio, estamos perdendo uma mente extraordinária que podia ser desenvolvida e ficou estagnada porque não teve como progredir.
Outra proposta para o ensino médio: vamos encontrar o caminho e temos até o orçamento para isso, é perfeitamente viável, é dar um computador para cada aluno do ensino médio. Um laptop que ele vai usar na escola e levar para casa. Conseguimos chegar quase no sonho do professor (Nicholas) Negroponte, do MIT (instituto de tecnologia norte-americano), quando ele previa que nós teríamos um computador de US$100, e que, de repente, todas as escolas, especialmente nos países em desenvolvimento, poderiam adotar o sistema e dar um computador para cada aluno. O computador ainda não chegou aos US$100, mas já chegou aos US$150. Fizemos um cálculo, de aproximadamente, R$200, o que já torna possível começar a fazer um projeto. Porque na verdade, o meu filho tem, possivelmente, os nossos filhos têm, mas as crianças que são da classe média baixa não têm computador. Nem em casa e muito menos na escola. Ele terá esse primeiro contato, e isso é muito importante.

Como pensa em estimular a atratividade da carreira docente junto aos jovens concluintes do ensino médio?
Pergunta elaborada por: Ângela Dannemann, diretora da Fundação Victor Civita

Antonio Anastasia – Para tornar qualquer carreira atraente, seja do magistério, seja policial, seja de médico ou advogado, temos de ter vários insumos. Um deles, naturalmente, é a remuneração, que precisa ter um padrão satisfatório. No caso do magistério, temos de nos esforçar muito, pelo menos num primeiro passo, para pagarmos igual ou mais do que a rede privada. Isso já torna a carreira mais atraente. Não resolve o problema, mas é um esforço. Também é preciso condições de trabalho. Sabemos que há problemas de segurança, especialmente na periferia das grandes cidades. Há a questão da estrutura física sobre a qual falei há pouco, os professores não tinham nem instalações e hoje já há uma melhora. E ainda, os professores têm que ter valorização na gestão escolar e no acompanhamento dos alunos, com efetiva participação. No nosso plano de governo há a figura das redes, que vai prever isso: a escola se transformando em uma âncora, especialmente nas cidades pequenas, para o desenvolvimento social daquela comunidade. E o professor vai voltar a ser mais prestigiado. Porque além da remuneração, que tem que melhorar, o professor tem que ter um prestígio social também.

Hélio Costa – Acredito muito que a participação dos pais precisar ser melhor trabalhada na escola pública brasileira. Eu morei muitos anos nos Estados Unidos e meus filhos mais velhos todos estudaram em escolas americanas. Semanalmente nós éramos quase que obrigados a participar do encontro de pais com os mestres. Toda semana. E assim, se desenvolve uma relação extraordinária, acaba-se vivenciando a escola, conhecendo todos os professores, todos os alunos, cria uma relação familiar com a escola. E eu não vejo isso aqui.

O que o senhor pensa sobre dar maior autonomia administrativo-financeira para diretores de escola, com a participação da comunidade de pais de alunos como controle?
Pergunta elaborada por: Ângela Dannemann, diretora da Fundação Victor Civita

Antonio Anastasia – Sou totalmente de acordo, até porque em Minas existe a figura da Caixa Escolar. A Caixa Escolar recebe recurso do Tesouro e é administrada pela comunidade escolar. Não é o Estado que está lá determinando as regras. É o diretor, os professores e os pais dos alunos que decidem a alocação daqueles recursos. Sou totalmente favorável a aumentar ainda mais essa autonomia para que essas escolas, que vão se transformar em referência daquela comunidade tenham condições de responder às demandas locais.

Hélio Costa – Quem respondeu esta questão foi Carlos Pereira (conhecido como Carlão Pereira), que participa do plano de governo do candidato – A autonomia administrativo-financeira é uma bandeira nacional histórica. Mas como vamos aumentá-la sem que isso empurre a direção da escola para ficar cuidando o tempo todo do telhado que quebrou, do cano que entupiu, da merenda que faltou, em detrimento da questão pedagógica? Eu falo muito da experiência que eu estudei mais a fundo, que é a de Belo Horizonte. Há uma autonomia enorme nas escolas em Belo Horizonte e as diretoras hoje estão ‘doidinhas’ porque não têm tempo de cuidar da questão pedagógica ou da relação com a comunidade, que é a tarefa da liderança, porque fica cuidando de “N” contratos, dez contas bancárias, a questão do vigia que não vem. É isso que nós estamos atentando muito para não acontecer. Autonomia, sim, mas vamos criar condição, porque senão vamos prejudicar lá na frente o aluno, que é quem nos interessa.

O senhor se compromete a não fazer indicações políticas para o cargo de diretores de escola? Como eles serão selecionados?
Pergunta elaborada por: Gustavo Ioschpe, economista da G7 Investimentos, especialista em Educação

Antonio Anastasia – Temos um sistema que funciona aqui desde a década de 1990, que eu não vou mexer, que funciona bem, que é um sistema misto de concurso com eleição, que é respeitado e democrático. Mas temos a necessidade de remunerar melhor os diretores, porque eles têm uma responsabilidade maior.

Hélio Costa – Há uma disputa longa sobre se as diretoras de escola devem ou não devem ser eleitas, se devem ou não ser indicadas. Antigamente era um processo político que foi de certo modo muito responsável pela situação das nossas escolas. Eu acredito muito na eleição, porque por meio dela identifica-se uma liderança. Nenhum professor ou professora vai conseguir se eleger diretor de uma escola se não tiver essa capacidade cultural.

Qual é o projeto do senhor para a disciplina Educação Física Escolar?
Pergunta elaborada por: Jorge Steinhilber, mestre em motricidade humana, presidente do CONFEF (Conselho Federal de Educação Física)

Antonio Anastasia – Fizemos reformas expressivas na rede física do Estado e em quase todas as escolas começamos a reformar as quadras e é interessante observar que a demanda sinaliza muito as necessidades. Antigamente queriam reformar as escolas, agora pedem para cobrir as quadras, o que mostra um avanço muito positivo. Nós temos de ter quadras cobertas, já temos os professores, e com o projeto Minas Olímpica, conseguimos juntar a questão da educação com a do esporte. Temos os Jogos Escolares de Minas Gerais, que são grandiosos, envolvendo centenas de municípios do estado, milhares de jovens e isso tem sido um estímulo muito grande à Educação Física. E com o preparatório para as Olimpíadas de 2016 criou-se um ambiente muito positivo. Minha proposta nesse caso é dar continuidade a esse programa (Minas Olímpica) e, ao mesmo tempo, através desses Jogos Escolares, motivando os alunos a se interessar pelas modalidades olímpicas e até por aquelas que não sejam olímpicas.

Hélio Costa – Por questão do tempo concedido à entrevista esta pergunta não foi formulada ao candidato.

Quais políticas do governo atual na área da Educação serão mantidas? Quais serão revistas ou aprimoradas (e de que maneira) e quais, eventualmente serão abandonadas?
Pergunta elaborada por: Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro

Antonio Anastasia – Nenhuma política vai ser abandonada. O IDEB atesta o êxito da educação em Minas Gerais. Para um Estado com as nossas dificuldades, com a nossa dimensão e com o nosso IDH, ser o primeiro em um segmento e terceiro nos outros dois é prova cabal do nosso êxito. Temos que continuar e aprofundar. Aprofundar a Poupança Jovem, o PEP (Programa de Educação Profissional), aprofundar a reforma das escolas, a metodologia, a melhoria salarial e as condições de trabalho dos professores e aprofundar a autonomia das escolas. Temos o diagnóstico, já sabemos como fazer, temos de avançar. E, é claro, colocar coisas novas. O professor indo à casa do aluno é uma coisa nova, esses jovens que vão sair do ensino médio e vão ter essa primeira experiência de trabalho é uma coisa nova. Vamos fazer também projetos inovadores, sempre vinculando educação e trabalho. Educação e emprego.

Hélio Costa – Isso é assunto para ocupar um seminário! Carlão Pereira responde – Vamos manter os sistemas de avaliação. Temos o ProAlfa que é estadual e o IDEB, federal. O que vai ser mudado radicalmente será a relação com o governo federal. Nós queremos parceria com o governo federal, e não desenvolvimento de política isolada. Hélio Costa complementa – e também a relação do estado com as prefeituras, que está atritada, especialmente por que lá pelos idos de 1995, o estado, de certo modo, levou os municípios a receber as escolas que eram de ensino fundamental, porém, mantidas pelo estado por uma troca prometendo enviar recursos, ônibus e na verdade nada foi feito. Entregaram as escolas às prefeituras, que assumiram uma responsabilidade enorme, e não têm os recursos para manter. Então essa relação prefeituras-estado tem que ser revista também.

Qual o papel que o candidato vê para a participação da sociedade civil e em especial para o investimento social privado no apoio à educação pública?
Pergunta elaborada por: Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro

Antonio Anastasia – Nós somos totalmente abertos a esses investimentos que são parcerias muito importantes. Temos vários exemplos desses em Minas Gerais, de instituições que “adotaram” escolas. Temos um movimento muito expressivo, por exemplo, ao redor da Cidade Administrativa, que um grupo de instituições da sociedade civil acolheu as escolas e fez reformas, e tudo isso está funcionando muito bem. O que é fundamental é que sempre o comando seja do estado. É o estado que dá diretriz para que haja esse tipo de parceria, esse tipo de iniciativa. Mas sou totalmente favorável para que ele ocorra.

Hélio Costa – Por questão do tempo concedido à entrevista esta pergunta não foi formulada ao candidato.

Que ações serão organizadas para implementar as escolas em tempo integral? Há interesse em ampliar a quantidade das unidades com essa modalidade de educação?
Pergunta elaborada por: Guilherme Weege, empresário, diretor da Malwee

Antonio Anastasia – Temos escolas em tempo integral no estado, já em número razoável e é um processo gradativo. Nós não temos como universalizar essa política. Não é só Minas, mas os estados todos, pela ausência de recursos, em razão do modelo tributário nacional, acabam tendo dificuldade em universalizar os programas, porque não existem recursos financeiros suficientes. Mas a escola em tempo integral é espetacular. Já estamos com mais de uma centena de municípios e é um projeto extremamente aplaudido e reconhecido. Nosso esforço é manter e aprofundar.

Hélio Costa – Quem respondeu a questão foi o Carlão Pereira – Com certeza. Faz parte dos planos a ampliação do tempo da criança na escola. Não é necessariamente a escola integral. Em Belo Horizonte tem escola integrada que oferece acompanhamento e atividades. Não é escola integral em que a criança passa o dia, mas existem mecanismos para ampliar o tempo de permanência e isso é essencial. Quanto mais se aumenta a relação de tempo, de vínculo entre o aluno e a escola, a condição dele melhora. As estratégias são variadas. O Brizola, positivamente, lançou o Cieps (Centros Integrados de Educação Pública). Um problema: o Cieps é uma estrutura muito cara. Mas ele colocou um marco no país, “nós temos que deixar as crianças mais tempo nas escolas”. Belo Horizonte hoje tem uma estratégia diferente que tem resolvido a contento.
Fonte: Educar nas Eleições
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